Amamentação
é muito importante para a saúde do bebê e da mãe. Isso todo mundo já sabe de
cor! Mas, vencer os desafios inerentes a esse ato, nem sempre é fácil. Passado
os desafios iniciais do primeiro mês de vida do bebê, o outro momento mais
crítico e que coloca em risco todo o esforço e luta depositados na amamentação
é o retorno da mulher no trabalho. Esse é um período em que normalmente há
introdução de outros leites ou até ocorre o desmame (interrupção total da
amamentação). Por isso, o tema deste ano da Semana Mundial de Aleitamento
Materno (entre 1 e 8 de agosto) será “amamentação e trabalho: para dar certo, o
compromisso é de todos”.
A pediatra
e consultora internacional de amamentação pelo IBLCE/EUA (International Board
of Lactation Consultant Examiners), Luciana Herrero, explica que ainda
existe um descompasso entre as necessidades para saúde do bebê e os
direitos que protegem as mães trabalhadoras. “Não podemos negar que nas últimas
décadas houveram avanços. Contudo, ainda estamos muito distantes do necessário.
Para uma mulher trabalhadora conseguir oferecer exclusivamente seu leite ao
bebê até os seis meses de idade é necessário muito mais que boa vontade e
empenho. É preciso um trabalho de equipe, com o apoio familiar e dos colegas de
trabalho, principalmente dos superiores”, explica a especialista.
Para ajudar
as mamães nesse processo, Dra. Lu, como costuma ser chamada por seus pacientes,
listou algumas ações simples para combinar sucesso amamentação e trabalho.
Na
gestação:
- Acreditar
desde a gestação que é possível amamentar: otimismo, perseverança e fé fazem
milagres acontecerem. E tem ajudado a muitas mulheres a superar os obstáculos
iniciais;
- Criar
rede de apoio: pedir colaboração da família e de amigos próximos é muito
importante. Eles poderão não só dar estímulo, mas também na ajudar na prática,
como levar o bebê para mamar no trabalho da mãe (quando possível);
- Procurar
um pediatra que apoie a causa e sigam o protocolo da Sociedade Brasileira de
Pediatria, ou seja, não prescrever a mamadeira e leites complementares logo que
a mulher volta a trabalhar, por exemplo;
- Criar
rede de apoio no trabalho: buscar sensibilizar colegas, chefe e até o setor de
recursos humanos. Quem sabe a empresa não se sensibiliza e implanta uma sala de
apoio à amamentação. Não é difícil, nem requer muitos recursos. E o Ministério
da Saúde oferece consultoria gratuita sobre o assunto. Esta mais do que
comprovado que quando a mulher trabalhadora amamenta os benefícios também são
para a empresa, pois aumenta a produtividade e diminui as faltas, já que os
filhos são mais saudáveis.
Na licença
maternidade:
- Amamentar
em livre demanda, ou seja, dar de mamar sem ter horários rígidos, quantas vezes
o bebê quiser e por quanto tempo desejar;
- Fazer
estoque de leite no congelador: retirar o leite materno e acondicionar em
frascos esterilizados e congelá-los para que seja oferecido ao bebê quando a
mãe estiver trabalhando. O leite congelado em casa, sem pausterizar, dura no
freezer 15 dias. Mas, se pausterizado no banco de leite pode durar seis meses.
Procurar um banco de leite para receber as informações de como ordenhar e
conservar é muito importante.
- Não
dar ouvidos aos maus conselhos: não são poucas as pessoas que dizem que o
bebê precisa ir se acostumando com a mamadeira e os outros leites, para quando
a mãe for trabalhar. Mas, essa informação além de incorreta é prejudicial, pois
favorece ao desmame. Os bebês não precisam se acostumar com o leite ou com o
bico antecipadamente. Se for necessário a alimentação complementar ele a
receberá na hora necessária. Se essa orientação vier de um pediatra, procure
uma segunda opinião junto ao profissional que abrace de verdade a causa da
amamentação. Peça indicação aos amigos, doulas ou banco de leite.
Após o
retorno ao trabalho:
- Ordenhar
a mama no trabalho: a cada três horas é importante que a mãe manipule as
mamas, retirando o leite que ali se encontra. Se houver onde e como armazenar,
ótimo! Caso contrário, ordenhe nem que seja para desprezar o conteúdo. Isso é
importante para que a produção do leite não seja diminuída.
- Armazenar
o leite para seu bebê: várias empresas possuem um espaço privativo (que
não o banheiro) para realizar a ordenha e uma geladeira para armazenar o leite.
É a chamada sala de apoio à amamentação. Esse espaço possibilita que a mãe
colha hoje o leite que seu bebê tomará amanhã, enquanto estiver trabalhando.
- Fugir das
mamadeiras: os bicos são inimigos número um da amamentação pois causam
confusão nos bebês e favorecem o desmame. O ideal é que o leite (ordenhado da
mãe ou as fórmulas lácteas) sejam dadas para o bebê no copinho ou na
colherzinha.
- Quando
estiver em casa, amamentar em livre demanda: é muito importante que a mãe
ofereça seu seio em livre demanda quando estiver em casa, durante o dia e à
noite. Pode ser apenas de manhã (antes de sair ou ao voltar), mas manter
as mamadas frequentes enquanto você estiver junto com o bebê é muito
importante, especialmente nos primeiros seis meses de vida. As
mamadas noturnas podem ser cansativas, mas são fundamentais para manter uma boa
produção de leite materno, pois é a hora de maior liberação da prolactina,
hormônio que controla a produção do leite humano.
- Conversar
com o pediatra para tentar antecipar a alimentação complementar: em alguns
casos particulares, quando o bebê tem mais de quatro meses, e a mãe (apesar de
todo esforço) não está conseguindo a quantidade de leite materno necessária
para oferecer ao bebê em sua ausência pode-se antecipar a alimentação
complementar. Não é o ideal, mas é uma alternativa possível para reduzir danos
à saúde do bebê. Pois, procurar resguardar a amamentação é muito importante.
Adicionalmente,
Dra. Lu sugere que as mães e família procurem soluções criativas para estar com
o bebê o máximo possível. Pode ser dar uma fugidinha para amamentar no
intervalo do almoço, pedir para alguém levar o bebê ao local de trabalho,
flexibilizar o horário, remanejar o caminho para passar perto de casa por
alguns minutos. Mesmo que a amamenta são seja exclusiva, é sempre preferível a
amamentação complementada com outros leites ou com alimentos (4-6 meses) ao
desmame total. E finaliza: “o que nos dá esperança é saber que felizmente
muitas brasileiras tem conseguido conciliar com sucesso trabalho e amamentação.
Mas, para isso seja cada vez mais frequente informação adequada desde a
gestação e apoio familiar e profissional são peças fundamentais”.
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